A única instituição que nunca caiu. E que nunca cairá.
quando o mundo desmorona, só a igreja permanece. Nem impérios, nem maçons, nem heresias, nem as más interpretações puderam vencê-la.
É notório, goste você da Igreja ou não, que foi ela quem construiu a civilização ocidental. Nascida em Jerusalém, da cruz de Cristo, tomando forma em Pentecostes, desde o início foi inconformada com o mundo decadente e, por isso mesmo, desde o início foi perseguida. Estabelecida em Jerusalém, de lá foi expulsa, saindo pouco antes do declínio daquela cidade com a destruição do Templo e a diáspora imposta pelos romanos — fruto da própria natureza orgulhosa, etnicista e rebelde dos hebreus, que, apesar de se mostrarem flexíveis frente à realidade, no fundo ainda mantinham uma noção de superioridade.
A Igreja se estabeleceu em Antioquia, cidade luminosa de onde surgiu o termo cristão, mais condescendente para com a helenização, e portanto afastada dos conflitos entre judaizantes e universalistas — conflito este pelo qual passou o príncipe dos Apóstolos, São Pedro, ao precisar ser iluminado pelo Espírito Santo para batizar o centurião Cornélio. A controvérsia só foi resolvida no Concílio de Jerusalém. Os frutos começaram a surgir, mas foi em Roma, o coração do Império, centro do mundo, que a Igreja se fixou. Inspirados pela ordem de Nosso Senhor — “Ide ao mundo e fazei discípulos” — a conquista gradual de Roma foi a conquista de Cristo sobre o mundo. Sua estrutura logística possibilitava a saída dos cristãos para todos os lugares. As boas novas se disseminaram pelos continentes, e mesmo a perseguição não parou o progresso — pelo contrário, aumentou ainda mais as fileiras do exército de Nosso Senhor. Como disse Tertuliano: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos.”
A Igreja sempre esteve no mundo, em suas estruturas, mas ao mesmo tempo, não se confunde com o mundo. Pelo contrário, oferece um refúgio da decadência, uma luz na escuridão, um guia para os incautos. “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver… Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e toda pátria é estrangeira”, escreveu-se a um cidadão romano de nome Diogneto, por volta do ano 120.
Roma, cidade vistosa mas decadente, não suportou a metanoia pregada pela mensagem de Cristo e, como Jerusalém, também perseguiu os cristãos. Constantino garantiu a paz após séculos de sangue derramado, e a Igreja floresceu — mas não sem dificuldades. Com a paz, veio a possibilidade de estudar, a fim de compreender melhor a mensagem de Cristo. Mas com isso, ideias filosóficas torpes encheram os corações de homens virtuosos que, seduzidos pela soberba, se desviaram da fé. Se Ário não fosse um homem admirável em aparência e eloquência, ninguém lhe daria ouvidos. Suas ideias chegaram ao ponto de quase causar uma cisão na Igreja. Foi graças à paz imperial e ao patrocínio de Constantino que se realizou o Concílio de Niceia, com o fim de encerrar tal heresia. Mesmo com o arianismo condenado, as ideias de que Cristo não é Deus permaneceram. O próprio imperador recém-convertido chegou a auxiliar materialmente os hereges, relativizando a doutrina da Igreja. Mas o Corpo de Cristo é uno, incorruptível, e não se dobra ao erro. Tal luta, no entanto, nunca cessará.
Com cisões e heresias, a batalha continua. Às vezes o Corpo está mais forte, outras vezes, enfermo — mas nunca morto. Um golpe estrondoso foi desferido com as heresias protestantes: uma fusão de doutrinas já refutadas pela Igreja, reavivadas sob o pretexto da liberdade de consciência. Tal golpe não apenas dividiu a cristandade, mas gerou diversos outros males: alimentou o surgimento das sociedades secretas, como a maçonaria, e reintroduziu formas pagãs de vida, como as religiões nacionais, os governos laicizados, o relativismo degenerativo e o indiferentismo religioso.
A Igreja, como uma fortaleza sitiada, respondeu com vigor. No Concílio de Trento, reafirmou tudo o que sempre ensinou, elevando a dogma o que já era vivido, como um cavaleiro que reforça sua armadura diante do inimigo. Contudo, nos dois últimos séculos, esse vigor parece ter minguado. Os inimigos da verdadeira fé — judeus, maometanos, protestantes, maçons — passaram a ter mais voz, inclusive nos bastidores da própria Igreja. Os judeus deixaram de ser considerados deicidas, os islâmicos passaram a ser vistos como adoradores do mesmo Deus, os protestantes influenciaram profundamente nossa forma de cultuar o Senhor, e as ideias maçônicas de relativismo e subjetivismo cresceram como um câncer. Aqueles que resistem a tais desvios são hoje acusados de extremismo, cisma ou heresia.
O chamado “Século das Luzes” promoveu, na verdade, um eclipse da fé. A razão foi erigida em altar, e a Igreja, desprezada como inimiga do progresso. O projeto iluminista — radicalmente anticristão — buscava eliminar não apenas o poder da Igreja, mas a própria ideia de revelação sobrenatural. A Revolução Francesa, iniciada em 1789, foi o ápice dessa mentalidade. Com promessas de liberdade, igualdade e fraternidade, instaurou o terror, perseguiu os fiéis, destruiu altares e guilhotinou santos. A monarquia católica tombou, e em seu lugar ergueram-se os ídolos da modernidade: o Estado laico absoluto, o culto à razão e a revolução perpétua.
Mesmo assim, a Igreja respondeu com firmeza. O beato Pio IX ergueu-se como um farol em meio à tempestade, condenando os erros modernos com o Syllabus Errorum. O Concílio Vaticano I reafirmou a autoridade do papa e a infalibilidade do magistério. São Pio X, como um leão, combateu o modernismo e as sementes da apostasia. Mas o mundo já estava embriagado por ideologias. No século XX, duas guerras mundiais e o colapso da ordem antiga abriram espaço para novas formas de tirania: o comunismo, o globalismo, a decadência moral.
Foi nesse cenário que se realizou o Concílio Vaticano II — um concílio legítimo, pastoral em sua proposta, e cujos documentos oferecem verdadeiros tesouros. Contudo, a interpretação deturpada de seus textos e a aplicação leviana de seus princípios causaram enormes feridas. Em nome de um mal-entendido “espírito do Concílio”, a liturgia foi dessacralizada, a catequese relativizada e a doutrina diluída. Não por culpa do Concílio em si, mas pelos que instrumentalizaram sua autoridade para promover uma ruptura com a Tradição viva da Igreja. Aquilo que foi convocado como reforma se transformou, em muitos lugares, em revolução.
O resultado foi o esvaziamento das igrejas, a crise nas vocações, o aumento dos escândalos e a perda do senso do sagrado. A moral foi obscurecida, os sacramentos banalizados, e muitos pastores se calaram diante do pecado público, temendo desagradar ao mundo mais do que a Deus. No entanto, mesmo nos tempos mais sombrios, o Espírito Santo nunca abandona a Esposa de Cristo. Há um remanescente fiel, que resiste com coragem, alimentado pela Tradição, pela liturgia reverente, pelo estudo dos Padres e pela vida sacramental fervorosa.
Hoje, mosteiros florescem silenciosamente, grupos tradicionais crescem, jovens descobrem com ardor o latim da Missa, os hinos gregorianos, os escritos dos santos. A força da fé de sempre volta a arder no coração dos que foram privados de alimento sólido. E a promessa permanece: as portas do inferno não prevalecerão. A Igreja, ainda que ferida, continua viva. Ainda que perseguida, continua de pé.
E se muitos se calam, as pedras clamarão. Os santos nos precedem, a Virgem nos guia, e Cristo reina. Ainda veremos dias difíceis, mas após a noite virá o alvorecer. A Esposa do Cordeiro sairá purificada, e será novamente — como no princípio — o farol da humanidade. Só ela pode reconstruir a civilização. Só ela conhece o remédio para as feridas do mundo. Só ela permanecerá quando tudo o mais cair. E, como sempre, ela vencerá.
Grande Abraço; Até a próxima!